Quando o assunto é hidratação, logo pensamos na famosa meta de “beber dois litros de água por dia”. No entanto, uma dúvida comum que recebo no consultório é: “chá conta como água?”. Afinal, ele é preparado com água, muitas vezes sem açúcar, e parece uma alternativa saudável. Mas será que pode ser contabilizado como parte da ingestão hídrica diária? A resposta é não e hoje vou te explicar o porquê.
O que é ingestão hídrica?
Antes de tudo, precisamos entender o que é considerado ingestão hídrica. De maneira geral, ela compreende todos os líquidos ingeridos ao longo do dia, com destaque para a água pura, que é a forma mais eficiente de hidratar o corpo. Essa ingestão é essencial para o funcionamento adequado dos órgãos, regulação da temperatura corporal, transporte de nutrientes e eliminação de toxinas.
Embora alimentos ricos em água (como frutas, verduras e sopas) também contribuam para a hidratação, o foco principal deve ser o consumo de água livre de substâncias que interfiram na sua absorção ou aumentem a diurese.
O que tem no chá que muda isso?
O chá, especialmente os preparados com ervas como camomila, hortelã, erva-doce, hibisco e os chás estimulantes como verde, preto e mate, contém compostos bioativos, como cafeína, flavonoides, ácido clorogênico e potássio.
Essas substâncias podem ter efeito diurético, ou seja, aumentam a eliminação de água pelos rins. Além disso, a cafeína presente em alguns tipos de chá intensifica esse efeito, podendo até mesmo reduzir a retenção hídrica. Em outras palavras: o que você bebe em forma de chá pode acabar sendo eliminado mais rapidamente, sem cumprir sua função plena de hidratação.
Mas chá hidrata ou não?
Sim, o chá hidrata em parte, mas não com a mesma eficiência da água pura. Ele pode ser uma estratégia complementar, por exemplo, para ajudar quem tem dificuldade em consumir água ao natural, mas não deve substituir a água no cálculo da ingestão hídrica ideal.
Por isso, mesmo que você consuma 1 litro de chá ao longo do dia, essa quantidade não deve ser descontada da meta diária de ingestão de água. Isso significa que, se sua recomendação diária for de 2 litros de água, você ainda deverá consumir essa quantidade em água pura, independentemente dos chás ou outras bebidas consumidas.
Qual é a recomendação ideal de ingestão de água?
De maneira geral, a recomendação de ingestão hídrica diária é de 35 mL por quilo de peso corporal.
👉 Uma pessoa com 60 kg, por exemplo, deve consumir cerca de 2,1 litros de água por dia.
Essa necessidade pode aumentar em situações como atividade física intensa, clima quente, febre, vômitos ou diarreia.
Dicas práticas para aumentar a ingestão de água
Se você tem dificuldade para atingir a recomendação ideal de água, aqui vão algumas estratégias que funcionam muito bem na prática:
- Leve uma garrafinha com você: Ter a água sempre por perto facilita o hábito. Dê preferência a garrafas transparentes, que permitem visualizar o consumo.
- Estabeleça metas ao longo do dia: Por exemplo, 500 mL pela manhã, 500 mL até o almoço, e assim por diante.
- Use lembretes: Alarmes no celular, aplicativos ou até bilhetes visuais no local de trabalho podem ajudar a lembrar de beber água.
- Aromatize a água: Use rodelas de limão, laranja, folhas de hortelã ou pedacinhos de gengibre para dar sabor, sem adicionar calorias ou comprometer a hidratação.
- Associe o hábito à rotina: Tome água ao acordar, antes das refeições, ao final de cada bloco de trabalho, e antes de dormir. Criar uma rotina com pequenos “rituais” pode tornar o consumo mais automático.
- Inclua a água com gás (sem sabor e sem aditivos): Para quem sente dificuldade em consumir água pura, a água com gás pode ser uma aliada. Ela também hidrata e pode trazer uma sensação de variedade no dia. Apenas evite versões com sódio elevado ou aromatizantes artificiais em excesso.
- Evite depender da sede: A sede já é um sinal de alerta do corpo, ou seja, idealmente você deve beber água antes mesmo de senti-la.
Então, como considerar os chás no dia-a-dia?
No consultório, minha orientação é clara: priorize o consumo de água pura ao longo do dia, especialmente entre as refeições e durante atividades físicas.
Os chás com efeito diurético e/ou estimulante devem ser usados com cautela, considerando o contexto clínico de cada pessoa. Por exemplo, pacientes com pressão baixa, problemas renais ou tendência à desidratação devem evitar o consumo excessivo.
Chás podem sim fazer parte de uma alimentação equilibrada e até oferecer benefícios à saúde, graças aos seus compostos bioativos. No entanto, quando falamos de hidratação eficaz, a água continua sendo insubstituível. Ela é a verdadeira protagonista na manutenção do equilíbrio corporal.
Então, mantenha sua garrafinha por perto, e aproveite o chá como um momento de prazer, mas não como substituto da água.
Referências
- BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.